A publicação marca um importante reconhecimento da contribuição brasileira numa área que centraliza e prioriza pesquisas do norte global. Na foto Prof. Mateus Henrique de Faria Pereira e Prof. Valdei Lopes de Araújo, professores do Departamento de História do ICHS / UFOP.
Por Beatriz Granha
Mateus Henrique de Faria Pereira e Valdei Lopes de Araújo, professores do Departamento de História do ICHS, Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto, localizado em Mariana, publicaram pela editora britânica Bloomsbury o livro intitulado “Updatism: Understanding Time and History, a Theory for the 21st Century”, versão expandida da obra publicada anteriormente em português pela Editora MilFontes, com o título “Atualismo 1.0 – Como a Ideia de Atualização Mudou o Século XXI”.
No livro, explorando a relação da sociedade com o tempo na era digital, os autores estudam o surgimento da palavra “atualização” em diversas línguas a partir da década de 60, buscando compreender seu significado político e seu uso nos mais diversos aparatos da vida cultural: no jornalismo, cinema, televisão e na historiografia.
A partir de uma metodologia inovadora, os autores propõem um novo conceito, concluindo que estamos vivendo uma relação com o tempo que denominam como atualismo (updatism).
Prof. Dr. Valdei explica que o atualismo é a crença de que as novidades e os lançamentos são sempre superiores às ideias e versões anteriores. O impulso “atualista” tende a enxergar o presente em sua forma narcísica, visto sempre como melhor e de maior valor. O professor explica que isso fica visível nas novas tecnologias, como na implementação das inteligências artificiais, que nos deixa divididos entre a necessidade de incorporá-las como ferramentas em nosso trabalho e o medo de nos tornarmos descartáveis:
“Criou-se a sensação de que tudo precisa ser atualizado, que todos nós estamos o tempo todo ameaçados de nos tornarmos obsoletos, de uma vez ultrapassado estaríamos ameaçados de extinção enquanto indivíduos, enquanto sociedade, nos valores com os quais estamos familiarizados.”
A obra analisa a ideologia do atualismo e seus reflexos na vida pessoal e cultural, bem como a ansiedade gerada pela necessidade de estar sempre atualizado, o que interfere por exemplo em nosso comportamento nas redes sociais, combinando a pressão para estar sempre visível com a sensação constante de solidão. De acordo com os autores, o livro explora a dimensão positiva e negativa do fenômeno, assumindo que devemos sim renovar aspectos do mundo em que vivemos, mas definindo-o muitas vezes como um conceito empobrecedor, que nos obriga a ser atuais num sentido único e limitante.
No livro os autores também exploram alternativas para vivermos melhor, defendendo a atualização a partir de elementos do passado e do futuro que ajudem a ” complexificar ” e melhorar nosso presente.
Pedro Meira Monteiro, professor de espanhol e português na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, afirma: “Este é um estudo engenhoso da nossa relação com o tempo, com o nosso tempo. Os autores constroem sua análise sobre a onipresença do atualismo e a urgência, ou melhor, a ansiedade diante de estar constantemente atualizado.”
Prof. Mateus frisa a importância desta publicação por uma das maiores editoras universitárias e comerciais do mundo:
“Este lançamento coloca um debate produzido no sul global no centro do capitalismo comercial e acadêmico, o que reforça uma postura anti colonial de ocupação deste espaço. Isso marca uma posição política e o reconhecimento do nosso trabalho, o que é motivo de muito felicidade. Tal reconhecimento é imensurável dentro das métricas de avaliação a que estamos submetidos, já que na área das humanidades o livro desempenha um papel fundamental, ocupando espaço central na cultura editorial”.
Trecho do livro :
“Mesmo considerando que a “pressão por estar “up to date”, por ser contemporâneo de um tempo naturalizado como uma força externa, não [seja] estranha à modernidade historicista” (Mandelstam!), e que a força atualista possa inclusive reforçar o sonho historicista do mergulho virtual em uma inexorável ideia de história universal inescapável (a possibilidade da conexão ilimitada com tudo e com todos), na qual as tiranias do presente, a ruína do anonimato ou a melancolia alongada dos modernos seriam sintomas, vocês não deixam de perceber brechas (anti-historicistas?), sendo, pelo menos para mim, as mais importantes:
1. a capacidade de desarticular o atual do presente que o conceito implica quando “reivindica forças do passado (e do futuro?) como mais atuais do que a atualidade”;
2. e a “flexibilização das identidades” que permitem uma espécie de cidadania das traduções da qual decorrem uma maior abertura à multiplicação de gêneros que transbordem as antigas e confinadoras categorias do masculino, do feminino, do humano e do não-humano.
O atualismo coloca em perspectiva não apenas as contingências historicistas, mas os dissabores da
inadequação geracional às formas atuais de gerir o mundo da vida.”
PÁG 19
Para saber mais sobre o livro, copie o link abaixo, é da página da editora e depois cole no seu navegador : https://www.bloomsbury.com/in/updatism-and-the-understanding-of-time-and-history-9781350410732/ Lá possível adquirir as versões e-book
Para a edição em papel, capa dura, copie o link abaixo e cole no seu navegador https://www.amazon.co.uk/Updatism-Understanding-Time-History-Century/dp/1350410713
Para adquirir a edição brasileira faça o seguinte : copie o link abaixo e cole no seu navegador
https://editoramilfontes.com.br/index.php?route=product/product&product_id=541&search=atualismo
Controle de qualidade e contato com o leitor : Para informar erro, ou pedido para inserir algum dado ou argumento contraditório ou elogio, ou ainda sugerir novas matérias, envie um email para oespeto@gmail.com ou pelo zap 31-98844-8976