62% além da população usam o Sistema de Saúde Público em Mariana : Números revelam impacto da mineração e da Renova

    Mais de 700 ônibus circulam em Mariana por dia. Vereador Fernando Sampaio disse que: “A gente quer que as empresas dêem um aporte para compensar a população flutuante de Mariana”. O prefeito Celso Cota alerta para a sobrecarga do sistema urbano do município.

    Por Leandro Henrique dos Santos

    Pesquisa: Hynara Versiani e João Benedito

    58% de aumento de geração de empregos em sete anos! Hoje Mariana tem 20.867 empregos formais. De 2015 a 2022 foram criados 7.667 empregos formais em Mariana, sendo que a maioria deles foram e ainda são gerados pela mineração, empreiteiras a serviço da Renova. Bom para economia e para o comercio. Um reflexo desse crescimento é o setor de festas e eventos, por exemplo o distrito de Bandeirantes hoje tem 50 sítios para aluguel para festas e eventos, sendo que 40 foram abertos de 2018 para cá !

    Porém por outro lado a circulação de ônibus aumentou, com fila que se estende facilmente de Mariana a Antônio Pereira, 12,6 KM ! São cerca de 700 ônibus que circulam diariamente em Mariana !

    A população de rua aumentou 195% em 3 anos em Mariana ! Há 362 alojamentos para trabalhadores que impactam o sistema de abastecimento de água. Há 100 mil cartões do SUS cadastrados hoje, muito mais do que a população registrada pelo censo de 2022 que é de 61.387 habitantes. Logo Mariana tem 38.613 usuários do SUS a mais da população ! São pessoas consideradas população flutuante. Ou seja há um aumento de atendimentos além da população de 62% ! Esse aumento reflete também no número de vagas em escolas e creches.

    Sobre os impactos no consumo de água o Prof. Dr. Pedro Peixe afirma que:  “È preocupante o que a gente consegue identificar aqui. Vídeos e fotos mais antigas da Serrinha, principal captação de Mariana, evidenciam as consequências da super exploração dos recursos hídricos no meio ambiente.”  Além disso outra captação importante no parque arqueológico e ambiental do Gogo está ameaça por tentavas de minerar naquela área que inclusive teve uma estrada aberta recentemente.

    Esses números foram completamente ignorados pela prefeitura ao longo dos anos que não aumentou a oferta de serviços públicos, como captação de água, fornecimento de energia, serviços de saúde e educação, transporte público e oferta de moradia popular. Como resultado vemos crescer as invasões, caminhões pipas pelas ruas, aumento do número de aplicativos, trânsito complicado, ruas que viram garagem para empresas de ônibus, aumento do número de moradores de rua 195% em 3 anos.

    Que Mariana tem uma grande população flutuante sabemos, cerca de 35 mil pessoas, porém o número pode ser maior que se imagina, e também seus impactos no dia a dia da cidade.Segundo informações que recebemos Mariana tem no seu espaço urbano 362 alojamentos para trabalhadores de empreiteiras e mineradoras, a serviço da Vale, Samarco, Cedro e Renova. Isso são os alojamentos informados. O maior alojamento fica em Passagem no prédio amarelo com 91 pessoas, foto acima.

    Para economia é um ótimo sinal, em 2022 por exemplo segundo dados oficiais, foram abertas três empresas por dia !

    Porém no dia a dia de quem mora em Mariana e distritos as conseguências desse crescimento econômico e demográfico é claro que causa transtornos, como aumento do número de moradores de rua,   trânsito complicado, alta no preço de alugueis, falta dágua, maior demanda na área da saúde e instabilidade de energia elétrica também, pois muitas casas foram adaptadas para serem alojamentos assim sobrecarregando a rede de energia.

    O aumento do número de moradores de rua em Mariana é efeito da mineração, pois muitos destes são pessoas que não se adaptam a vida dura do serviço  nas empreiteiras e mineradoras, como aumento da jornada do trabalho, mesmo com pagamento de horas extras. Ainda enfrentam um regime rígido nos alojamentos, onde tem hora até hora para entrar à noite, que é as 22hs. O alojamento é uma extensão do local de trabalho, tem até encarregado, tudo para evitar tumultos, problemas com a vizinhança e brigas. Há alojamento com 90 trabalhadores, outros com dez, vinte, as casas são adaptadas para caber mais gente. Claro que acontecem problemas, como uma briga de trabalhadores onde um foi morto a facadas ano passado próximo o Estação de Trem de Mariana, devido a roubos dos pertencentes do colegas para compra de droga.

    Sem ter como voltar e onde ficar, alguns trabalhadores não adaptados vão morar nas ruas onde tem como companhia a cachaça e outras coisas piores.

    Segundo informações  da Secretaria de Ação Social e Cidadania Sra. Daniely   algumas famílias e trabalhadores em situação de vulnerabilidade social já aceitaram auxilio para voltarem a sua terra natal. “Mariana passou por muitas transformações após 2013, e temos heranças de muitos fatos que aconteceram. Após o rompimento da Barragem de Fundão, era esperado o pico das obras, mas faltou planejamento da nossa cidade, condução dos trabalhos”. Disse.

    Para Daniely é necessário entender quem é a população moradora de rua, e quem é a população que está em situação de rua. Ela relembra também que a invisibilidade dessas pessoas é apenas um dos problemas.
    “Precisamos nos atentar a outras heranças. O trânsito, por exemplo, é uma questão caótica, e o número de violências sofridas por mulheres é muito alto”, afirma.

    O secretário de Governo Danilo Brito ressalta que todas as autoridades da cidade estão envolvidas na discussão por sua importância : “Estamos tratando de seres humanos. É um tema muito complexo e particular, não há receita de bolo. Há particularidades em Mariana, como o nosso crescimento e desenvolvimento. Temos por volta de 100 mil cartões do SUS hoje, muito mais do que a população registrada pelo censo”, conta.

    Sr. Danilo Brito explica que é preciso desenvolver políticas públicas para ajudar essas pessoas a voltarem para suas casas, de forma legal.

    A Assessora Técnica da Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania, Karolina Rodrigues, disse que durante o período de 2020 a 2023, os atendimentos a migrantes no Centro POP apresentaram um aumento de cerca de 195%. Apenas em 2023, 380 famílias tiveram o cadastro transferido para o município. Sobre o número a evolução da criação de empregos Srta Karolina Rodrigues disse que: “ Em 2015, o número total de vínculos ativos ( empregados em Mariana) era de 13.200. Em 2022, esse número havia subido para 20.867.

     Secretaria de Educação respondeu o jornal O Espeto sobre falta de vagas disponíveis para os alunos da rede municipal: “Os impactos que percebemos são nas vagas disponíveis nos segmentos de Educação Infantil e Ensino Fundamental I, pois os quantitativos de salas nas unidades escolares não são suficientes para atender as demandas que crescem de repente, insumos pedagógicos condizentes com o quantitativo de alunos e contratação de funcionários em tempo acelerado”.

    “Os últimos bairros em Mariana foram criados em 1996, e a partir daí a cidade começou a inchar” afirma Marcos Antônio, participante da Associação Nossa Casa. Por ser um polo minerário, centro de atuação de grandes empresas como a Vale S/A, Samarco e Cedro, Mariana recebe mão de obra vinda de outros Estados do Brasil. Muitas vezes, essas empresas são responsáveis por arcar com os custos habitacionais de seus empregados, e de acordo com o membro da Associação Nossa Casa, isso resulta em aluguéis mais caros, pois as imobiliárias e proprietários elevam os seus preços.
    Marcos Antônio pontua que a situação da moradia em Mariana pode ser considerada humilhante para muitas pessoas, pois não podem competir com os valores pagos pelas empresas minerárias e empreiteiras da Renova.

    De acordo com a Prefeitura de Mariana, o prefeito Celso Cota está em negociações com as mineradoras para garantir contrapartidas para a comunidade. Entre as propostas discutidas estão a construção de moradias populares, investimentos em educação e saúde, priorização de mão de obra local e apoio financeiro para trabalhadores demitidos retornarem às suas cidades de origem. O objetivo é mitigar os impactos socioeconômicos da atividade mineradora e promover o desenvolvimento sustentável do município.

    O prefeito Celso Cota alertou para a sobrecarga do sistema urbano do município: “A cidade continua crescendo muito, temos em torno de 4 a 5 mil famílias na área de ocupação irregular. Temos uma sobrecarga no sistema urbano como um todo, por exemplo, produzindo o lixo de uma população de cerca de 100 mil habitantes porém no IBGE temos 61 mil ”.

    “Necessário lembrar que quando iniciou suas atividades em Mariana, década de 1970, a Vale construiu a infraestrutura dos bairros Vila Maquiné, Jardim dos Inconfidentes, e os Predinhos. A Samarco construiu a Vila da Samarco em Antônio Pereira. Hoje Mariana recebe todo impacto do aumento populacional recente, cerca de dez anos, com nova expansão das mineradoras e das empreiteiras da Renova e prestadoras de serviços sem que os prefeitos cobrassem alternativas na liberação da licença de operação ou obra. Ou seja, há uma herança de falta investimento recente que agora a atual administração tem que lidar.” Disse Sr. Antônio da Lua morador de Mariana.

    O anunciado maior loteamento residencial de Mariana com 1600 moradias virou o maio conto do vigário

    Diante desse quadro, a pergunta é qual papel das mineradoras e empreiteiras em Mariana ?

    Câmara de Mariana promoveu uma reunião na manhã de 01 de dezembro de 2022,  justamente sobre esse tema, com representantes da Prefeitura, do Poder Judiciário e das empresas mineradoras Cedro, Samarco e Vale, durante a reunião conjunta das comissões, para debater os impactos do fluxo migratório no município, tanto na saúde quanto no ensino público. A Fundação Renova foi convidada mas nenhum representante compareceu ao encontro.

    O presidente da reunião, á época, vereador Fernando Sampaio ressaltou o impacto no âmbito social causado pelas empresas. “Hoje, a gente não consegue dar uma educação com qualidade, temos uma fila de espera gigantesca nas creches, vários recursos de exames que acabaram. A gente quer que as empresas dêem esse aporte para compensar a população flutuante de Mariana”, afirmou Fernando Sampaio.

    Aconteceu no dia 23 de maio de 2024 importante reunião promovida pela Prefeitura de Mariana onde autoridades e população discutiram o aumento populacional suas consequências, de onde importantes informações foram divulgadas, as quais citamos nessa reportagem.

    Êxodo rural: Sobre aumento populacional de Mariana faz-se necessário constar um fato: ao mesmo tempo que em Mariana temos uma grande concentração de população acontece o contrário nos distritos, na zona rural. O distrito de Camargos por exemplo tinha no senso de 1940 a quantidade de 718 habitantes e hoje tem apenas 83 . O distrito de Furquim  tinha em 1940 a população de 6.051 pessoas, maior que a população de Mariana na época, que contava com 5.851. Hoje Furquim tem apenas 1.656. A migração da população rural revela falta de investimentos em infra estrutura, falta de perspectivas de futuro, como estradas de boa qualidade em muitos distritos, e também expectativas econômicas. As iniciativas como Casa do Mel, Fábrica de Laticínios, iniciadas em 2015 não foram levadas a frente por gestões passadas.

    Resta pensar Mariana para o futuro, e de forma conjunta buscar diálogo para cobrar que contra partidas importantes sejam feitas.

    Mariana tem hoje 351 requerimentos de pesquisas, autorização de pesquisa, pedidos de autorização de lavra,   para mineração de:  ferro, ouro, bauxita, platina, quartizito, areia, saponito, esteatito, gnaisse, granito, filito, serpentinito, cascalho, arsênico e talco.

    Todos irão passar pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. È importante minerar mas uma contra partida justa deve ser feita, para as pessoas tenham uma qualidade de vida aceitável.

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